2- Estar no Forex - A Gestão do dinheiro

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2- A Gestão do dinheiro

Vou começar esta rubrica citando uma máxima que li algures, não me recordando do seu autor, mas que ficou gravada e julgo ser de grande significado, sendo mais ou menos assim:

“O trabalho principal neste negócio não é ganhar dinheiro. O trabalho principal neste negócio é fazer a gestão de risco. Se fizermos um bom trabalho…, seremos recompensados”.

A maior parte dos sites na internet e dos livros que poderemos consultar relacionados com os mercados financeiros, dedicam-se quase em exclusivo á área de detecção de melhores pontos de entrada, desenvolvendo e mostrando vários sistemas e estratégias.
Em minha opinião nenhuma estratégia ou sistema funciona se não gerirmos o nosso dinheiro correcta e disciplinadamente.

Como nas rubricas anteriores em que aconselho que cada um desenvolva a sua própria estratégia, também aqui aconselho que cada um desenvolva a sua própria forma de gerir o seu dinheiro, sendo que os exemplos que vou dar a seguir, sirvam apenas de referência podendo servir de tópico para que cada um a adapte a si próprio.

Desta forma, teremos que criar regras que nos permitam definir quanto vamos investir e o que esperamos desse investimento.
Como já foi dito no post inicial deste blog na abordagem introdutória ao mercado Forex, não vamos investir a totalidade da nossa conta numa única operação. Iremos aplicar uma percentagem em que caso a posição venha a resultar numa perda, não afecte a capacidade de nos expormos ao risco com nova operação.
Já vimos também que iremos perder algumas das nossas entradas, logo teremos que limitar o montante dessas perdas. Aqui entra a interligação que terá que existir entre o montante predisposto a perder, fazendo a sua repercussão em pips, como nesse post descrito.
Há que ter em atenção que a gestão do dinheiro tem que ver também com a forma como está a operar o mercado, se opera o Daytrading ou Position Trading, pois operando o curto prazo irei efectuar muito mais entradas do que operando o médio/longo prazo, e, neste ultimo por norma opero com Stop Loss maior, a que corresponde a exposição de uma quantidade maior do meu capital.

Se investir 50% da minha conta por posição, perdendo 2 posições pus a minha conta a zero, se investir 25% ficará a zero ao fim de 4 entradas perdidas, se investir 5% já serão necessárias 20 perdas consecutivas.
Estas percentagens servem apenas para ilustrar a minha exposição ao risco. Terei que adoptar uma percentagem que se coadune com o meu capital e com a minha forma de estar.
Quando falamos em investidores profissionais, é prática corrente limitarem a exposição por posição a 1% ou 2%, pois por norma operam com contas de montantes bastante elevados e poderão ter muitas posições abertas em simultâneo, seguindo viagem em velocidade cruzeiro, o que deverá ser o nosso objectivo.

Tendo estabelecido a nossa percentagem de risco, teremos agora que analisar o que esperamos em termos de proveito.

Julgo ser acertado um rácio risco/proveito de 1:3 em condições normais. Quer isto dizer que só entrarei com posições onde após a minha análise, ache expectável arriscar 1 com o objectivo de lucrar 3 (na rubrica seguinte “Gestão de entradas e saídas”, aprofundaremos este assunto). Não invalida que entre em algumas posições com objectivo mais baixo, designadamente 1:2, desde que a minha análise do mercado o justifique, mas por princípio é 1:3
Desta forma em cada 10 entradas basta-me ganhar 3 para ir ganhando com consistência no dia a dia.

Vamos partir para um exemplo
Suponhamos que a minha conta tem 10.000 dólares.
Limito o máximo de exposição por operação em 5%.
Assumi como rácio risco/proveito 1:3

Então, 5% de 10.000 é igual a 500, que é o máximo de perda por operação
Rácio 1:3, diz-me que os proveitos por operação serão 1.500

Assim,

7 posições perdidas X 500 = 3.500
3 posições ganhas X 1.500 = 4.500

Como poderemos verificar ganhando 3 das nossas apostas em cada 10 conseguiremos manter-nos no mercado ganhando com alguma segurança.

Um dos quesitos importantes para complementar esta forma de gerir o dinheiro, é respeitarmos o que foi dito nos artigos anteriores, no sentido de entrarmos apenas em situações préviamente analisadas, que nos permitam objectivos que se encaixem no modo como gerimos o nosso dinheiro.

Mantendo esta disciplina vamos fazer uma projecção da nossa conta:

Vamos partir do princípio que fazemos 10 entradas por mês.

No primeiro mês temos um saldo positivo de 1.000(lucro de 10%)
Então no início do 2º mês a nossa conta é de 11.000
5% da nossa conta é igual a 550
Rácio risco/proveito 1:3

7 posições perdidas X 550 = 3.850
3 posições ganhas X 1.650 = 4.950

Lucro do 2º mês de 1.100(10%)

Quer dizer que fazendo o reajuste mensal da nossa conta, e ganhando apenas 3 em cada 10 operações conseguimos incrementar a nossa conta mensalmente em pelo menos 10%.

Então vejamos ao fim de um ano como estava a nossa conta, se tivéssemos iniciado com 10.000 dólares


-------------- Lucro 10% -------- Saldo final

Mês 1 ---------- 1.000 ------------ 11.000
Mês 2 ---------- 1.100 ------------ 12.100
Mês 3 ---------- 1.210 ------------ 13.310
Mês 4 ---------- 1.331 ------------ 14.641
Mês 5 ---------- 1.464 ------------ 16.105
Mês 6 ---------- 1.610 ------------ 17.715
Mês 7 ---------- 1.771 ------------ 19.486
Mês 8 ---------- 1.948 ------------ 21.434
Mês 9 ---------- 2.143 ------------ 23.577
Mês 10--------- 2.357 ------------ 25.934
Mês 11--------- 2.593 ------------ 28.527
Mês 12--------- 2.852 ------------ 31.379

Bom, ao fim de um ano teríamos a nossa conta com 31.379 dólares, a que corresponde mais de 200% ao ano em relação ao nosso investimento inicial de 10.000 dólares.

Agora vejamos se em vez de 3 ganhos em 10, conseguirmos uma média de 4 ou de 5, ou se a nossa conta no lugar de 10.000 dólares fosse 100.000.
Pois é, como dizia o outro…. É uma questão de fazer contas.

Só que para atingirmos esta situação, não nos podemos esquecer de todo o trabalho disciplinado que temos que desenvolver, conforme descrito nos artigos anteriores.

Só ao fim de algum tempo teremos a percepção da nossa percentagem média de entradas ganhas e de que forma, pois há investidores que atingem estes 30 % de entradas ganhas, outros conseguem os 40%, outros 50% e mais. Ao operar daytrading poderá conseguir-se um número maior, embora nesta situação provavelmente o rácio risco/proveito já tenha que ser inferior. Por exemplo se operar com rácio 1:1, terá que ganhar mais de 50% das entradas para obter lucro.

Em termos práticos as contas não serão assim tão lineares, pois poderão haver meses em que só ganhámos 2 ou mesmo 1 posição, haverá outros em que poderemos ganhar 6 ou 7, poderá haver outras em que no fim da nossa análise achamos viável avançar com rácio risco/proveito de 1:2, pois apesar de a expectativa de lucro ser inferior, também o risco estudado e assumido o será, tudo dependendo da movimentação do mercado, assim como da nossa análise, matéria esta que iremos abordar na próxima rubrica.

Quando falo em investidores que operam com uma percentagem de risco de 1% ou 2% por posição do valor da sua conta, digo-vos que concordo inteiramente com estes valores, pois desta forma mantemo-nos sempre confortáveis conseguindo digerir mais facilmente as posições perdidas.
Só que, se estamos a operar com um montante pequeno na nossa conta esta percentagem não nos dá espaço de manobra para colocação da stop loss, senão vejamos:
Se tivermos uma conta de 1.000 dólares, a 1%, apenas teremos 10 dólares para utilizar como stop loss, o que mesmo operando um mini lote (10.000 Eur/Usd, por exemplo) em que o pip vale 1 dólar apenas conseguiremos uma stop loss de 10 pips, o que é manifestamente reduzido de forma a dar algum espaço para o par respirar.
A que estamos sujeitos que nos aconteça nesta situação?
É fazermos a nossa análise achando por exemplo que o par vai subir tendo como ponto de partida 1,3500. Entretanto entrámos com a posição de compra com os 10 pips de stop loss(1,3490). De seguida o par vem a 1,3475 (baixou 25 pips) tendo accionado a nossa SL, do que resulta uma posição perdida para nós e,…. De seguida o par começa a encaminhar-se de acordo com a nossa análise subindo a 1,3600, etc. Ou seja, apesar de termos feito o estudo correcto, não demos espaço suficiente ao par para respirar. Esta é das situações mais frustrantes que nos podem acontecer, dai a importância de termos bem definidos os objectivos da entrada e caso não encaixe no que perspectivámos… não entramos.

Ok. Mas neste caso dificilmente conseguirei uma análise que se enquadre na minha “gestão do dinheiro”, pois só tenho 10 pips de margem de manobra. Então vou ter que assumir um valor superior para a minha percentagem de risco por entrada, isto enquanto o montante da minha conta é reduzido.

Independentemente do valor da nossa conta, teremos que nos sentir bem com a possível perda, e neste caso quem investe 1.000 dólares julgo não ter aumento do batimento cardíaco ao investir 50 dólares(5%) por entrada, contando ainda que nesta fase inicial não irá ter um grande numero de posições abertas em simultâneo. De qualquer forma não aconselho mais que 3 posições abertas em simultâneo que ainda tenham risco de perda. Digo em risco de perda, pois poderemos ter mais posições abertas desde que já tenhamos a stop loss no verde. Agora vejamos um investidor a dar os primeiros passos e tem uma conta de 50.000 dólares. Provavelmente já não acontecerá o mesmo se mantiver os 5%, pois estes equivalem a 2.500 dólares. Esta situação não tem só que ver com a nossa capacidade financeira, sendo o mais importante o grau de conforto com que estamos a operar. Todos conhecemos pessoas que apesar de estarem bem folgadas financeiramente, acabam por não se sentirem tão confortáveis em relação a outras menos desafogadas, embora o montante em exposição seja o mesmo. Logo teremos que operar de forma a sentirmo-nos bem com o que estamos a fazer.
O montante que deveremos ter em consideração não é o valor da nossa conta ao momento(equity). Será o valor da conta abatida do resultado das posições abertas(balance), mas não terá que fazer contas, pois todas as plataformas nos indicam esses valores em separado.

Pretendeu-se nesta rubrica colocar alguns tópicos em cima da mesa, para que você a partir deles possa criar a sua própria forma de estar no mercado. Há outras vertentes a ter em consideração, características de cada um de nós e que nos cabe implementar e adaptar, no entanto terá sempre que actuar conjugando a sua estratégia de entradas no mercado á gestão do seu dinheiro, pois por melhor que seja a sua estratégia, se não for complementada com uma gestão disciplinada da sua conta, mais dificuldades terá em manter-se com resultados positivos no seu percurso normal.

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